quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Antes que anoiteça em mim . Manhãs


Manhãs

A roupa lavava-se no tanque logo pela manhã  para corar ao sol e secar ao vento.
Os mais velhos tomavam conta dos irmãos mais novos, dos sobrinhos mais pequenitos e ajudavam nas tarefas da casa e do quintal
A mãe fazia o trabalho dentro e fora da casa.
Tratava dos animais, da horta, da comida, e da roupa casa. Sempre agarrada ao tanque que era muita gente em casa.
Andávamos sempre atrás da mãe que não nos queria sozinhos em casa.
No verão sabia bem ir á horta lavar a roupa.. Era lá que estava o tanque, ao pé do poço.
A horta era quase um jardim. O nosso pai fazia canteiros de flores que haviam de abrir e murchar ali. Não gostava de as ver cortadas. 
Também não matava a criação, era a nossa mãe que o fazia.
Sabia bem mergulhar as mãos na água fresquinha do tanque enquanto se ajudava a esfregar a roupa e se deitava um olho aos sobrinhos. "Que não estragassem os canteiros do avô nem caíssem  á vala". Avisava a mãe.
De inverno a horta cobria-se de geada. Tudo branquinho logo pela manhã.
As  novidades  já despontavam na terra. 
As cores esbatiam-se com as nevoas e o branco da geada. Parecia  que as nuvens  desciam ao chão. 
Os raios de sol da manhã luminosa refletiam as cores do arco íris sobre o gelo da agua do tanque.
Partia se o gelo e mergulhavam se as roupas e as mãos.  As mãos  ficavam "engadanhadas" e deixavam de se sentir.
Estendida a roupa no arame, levanta-se a meio com um pau, para ficar alta e o vento lhe dar melhor.
Era hora de ir para casa e ajudar na cozinha.
Acender o lume para fazer o almoço.
Era a mãe que  o acendia. Ateava o lume num instante sem fazer fumo, ao contrário de mim que nunca o soube fazer sem ficar com os olhos a arder.
Uma "macheia" de caruma e umas pinhas, e o fogo logo pegava . Enquanto o lume ateava  ia partido uns cavacos dobrando-os com o joelho. Depois, com a tenaz, ajeitava a lenha ao alto para que o lume não se apagasse.
E eu ficava ali, a ver as chamas bailarem e a sentir o calor na cara e nas mãos que ainda doíam os dedos da água fria. 
 "Mari Clara!" , chamava a mãe, e lá ia eu, que estava a ser precisa.







 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020




Cartas da Mana

"Olá meus queridos!
Eu tento viver o melhor que sou capaz!
Eu pensava que viver um dia de cada vez, era só para quem não tinha outra alternativa, afinal não é nada disso! Sabes a cachopa que eu tenho na minha cabeça ? Pois é andava sempre a ralhar com a velha que está no meu corpo,isto estava a ser um caso muito sério , olha não te rias porque isto acontece a todos , umas enchem-se de ;base; para esconder a velhice outras ficam malucas e. não querem tomar os 7 comprimidos pela manhã e outras ainda que é o meu caso, têm que ir ao psiquiatra para aprender a ser menos chatas, enfim !
Eu como não sou burra, só se me der jeito, achei por bem fazer as pazes aqui com a velha!
Então vivo um dia de cada vez , trato muito bem aqui a velha, dou-lhe todo o remédio que ela precisa até lhe ponho fraldas se for o caso, deixo-a dormir se ela pedir num dia no outro vai comigo para a horta faço-a transpirar que nem uma mula nova! Vem para casa toda vaidosa porque semeou às favas !
Vez como é a minha vida?
Um dia de cada vez!
A minha velha tem dias que ainda me surpreende com o trabalho que ela faz!
Vivo toda contente 😄 com ela é cá vamos um dia ela pode com o mundo 🌎 outro dia não quer sair de casa , beijinhos e não pensem na velhice! Ainda vos hei-de ver muito velhinhos !
Beijos meus queridos!
Conseguiste ler tudo? Boa 👍"
Ilda Simão

sexta-feira, 3 de maio de 2019


Quero contar- te coisas

Olá  meu querido  netinho!
Que coisa avançada  já  teres um email! 
Foi o papá  que o fez para surpreender  o avô com uma mensagem linda!
És o futuro sem dúvida, e hás- de tu um dia contar-me coisas, as coisas extraordinárias  que vais fazer!
Entretanto vou eu contar-te coisas!
Quando soube que vinhas  a caminho sabes o que senti?
 Senti que o meu coração  começou  a crescer no peito e  a correr muito depressa e o meu sorriso estendeu-se tanto no rosto que quase tocava  as orelhas!
Era o amor por ti a nascer!
Logo te comecei a imaginar!
 Como seriam os teus olhos, as tuas mãos,  se terias muito cabelo como tinha o papá quando nasceu!
Mas sabes meu netinho?
 Quando te vi, quando estiveste pela primeira vez no meu colo, juntinho ao meu coração, o meu coração logo te conheceu e   correu tanto que saltou mesmo no peito e o meu rosto foi pequeno  para o tamanho  do meu sorriso!
Afinal eras  um amor ainda maior  do que aquele que eu tinha sentido quando  soube que vinhas a caminho.
E agora basta pensar pensar em ti que logo o sorriso se liga às  orelhas e coração começa a correr  à  tua procura!
O meu coração  gosta muito de ti!
Outro dia conto- te mais coisas!
Beijinhos  meu querido netinho!
A tua  avó Clara